sexta-feira, 20 de abril de 2012

Memorial


Memorial do Leitor

            Meu contato com as letras foi em uma sala nos fundos da casa da Srª Madalena, vizinha da casa dos meus pais, lembro-me da sala com paredes coloridas cheia de letras cursivas e desenhos e principalmente das crianças que eram meus coleguinhas de brincadeiras na rua.

             Fiz meu pré-escolar em uma escola católica, onde aprendi a ler e a escrever e fui motivo de orgulho para minha família quando fui escolhida como oradora da classe.    

            A escola regular que estudei nos meus primeiros quatro anos era no final da rua onde morava, minha vizinha chamada Flávia Sousa possuía a assinatura da revistinha Nosso Amiguinho, que eu adorava , ficávamos lendo e fazendo as atividades. As revistinhas chegavam pelos correios  e eram motivo de muita alegria,  cada exemplar vinha recheado de historinhas novas e atividades que nos chamavam atenção e, aquelas revistinhas, feitas para colorir e cheias de figuras despertavam em mim uma vontade imensa de ler e escrever. Não me recordo de outro tipo de leitura ter chamado tanto a minha atenção, por outro lado, os números, ah, os números, esses sim eram pra mim um grande desafio, tinha dificuldade e para aprender decorei a tabuada. Na época era assim que se aprendia, através do “Decoreba”, a professora sempre tomava a tabuada da turma, era um momento de muita apreensão, porque se não respondêssemos direito, além de levar uma tremenda bronca, tínhamos que conviver com a risada dos coleguinhas.  

            Na leitura eu me encontrava, aquelas palavras me transportavam para um mundo mágico, um mundo que me mostrava que tudo era possível, um mundo em que tudo era perfeito e prazeroso.

            O gosto pela leitura aumentou quando descobri os almanaques que minha prima Ceiça Barbosa comprava em bancas de jornais e era o que eu lia com frequência, não tínhamos o hábito em pegar livros em bibliotecas. O tempo passou, deixei de lado as revistinhas e os almanaques e descobri um outro tipo de leitura, que condizia mais com a minha idade, afinal, como dizia minha mãe “ eu já era mocinha” descobri os romances,  as histórias de Júlia, Sabrina e Bianca, mas  eram as histórias de Bárbara Cartland  que me encantavam, em meus sonhos eu sempre era uma das heroínas, construía um mundo particular habitado de  castelos, duques, príncipes, toda a realeza  e aquele ambiente de sonhos. Eu era a princesa da história, lá era o meu mundo intocável.

            Durante o Ensino Médio, iniciei um curso de inglês, na época era moda, viajava com as traduções das musicas românticas de U2, The Cure, Cyndi Louper, A-Há, David Bowie e tantas outras, sonhava em falar inglês fluentemente e cantar em inglês, na verdade esse era o desejo da maioria das meninas na minha idade. Para distrair-me durante o caminho de ida e volta para o curso, que era feito de ônibus, comecei a pegar livros na biblioteca da escola e com isso iniciou-se um círculo do livro entre eu, minha mãe Valda, minha prima Ceiça e uma amiga de minha mãe chamada Cecé. Nesse círculo tínhamos um compromisso de todas nós lermos todos os livros escolhidos  um pelas outras e com isso variávamos, líamos romances, histórias policiais, terror, suspense, dramas.

            Lembro-me de ler nessa época Sidney Sheldon, Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Danielle Steel, Pollyanna, mas o livro que mais me impressionou foi o livro  “O exorcista”, eu o lia em todos os momentos livres que tinha, mas não tinha coragem de lê-lo à noite ou se estivesse sozinha em casa.

            Nesse período detestava os clássicos que no Ensino Médio eram impostos em sala de aula, achava a leitura cansativa e as histórias sem sentido, estava em uma fase que queria aventuras e romances, leituras de acordo com o que estava vivendo ou sonhando em viver e ler “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, era entediante.

            Quando entrei na Faculdade, estava casada e tinha um filho, fiz o vestibular por insistência de minha amiga Maria, que precisava de incentivo para prestar o vestibular também.

            A escolha pelo curso de Letras foi mais pelas condições financeiras e pela proximidade com a Faculdade, que pela vocação, não tinha pretensão em me tornar professora naquela época, voltei a estudar mais pelo status em ter nível superior que pela profissão.

            No primeiro dia de aula, levei um susto ao deparar-me com um texto de filosofia, não entendia nada que lia e pensei logo nos cheques pré-datados que tinha deixado na tesouraria da instituição, quase desisti, voltei para casa frustrada, achando que tinha dado um passo maior que a minha perna.

            Já no segundo dia tudo foi diferente, minha professora era fantástica, Professora Eliane Farias, Teoria Literária, ela falava e eu compreendia perfeitamente suas teorias, sua voz calma chamava minha atenção.

            Ler nesse período era cansativo, não conseguia ler por prazer, lia focada nos roteiros literários determinados pelos professores e quando terminei meu curso estava estafada.

            Acredito que ler seja um despertar, mas no meu caso esse “despertar” tem altos e baixos, passo por períodos em que leio em qualquer lugar e tudo que me cai às mãos e períodos em que só em olhar um livro confesso que sinto preguiça. Mas tenho plena consciência da grande importância da leitura e do poder que a leitura têm de nos transportar para mundos particulares, acalentadores e mágicos.

E como diz Mário Quintana:



“Dupla delícia

O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado”.


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